De tardezinha ao chegar do trabalho, como de praxe, Célio foi escrever. Encontrou alguns papéis para rascunho espalhados por sua escrivaninha e os juntou num calhamaço bagunçado, da melhor forma que as folhas de tamanhos diferentes permitiram.
Acomodou-se no único assento disponível da casa, um banquinho tosco de madeira clara e densa. Levava diversos tombos dele graças a sua incomparável ergonomia.
_ Cadê minha caneta? _ perguntou para as paredes do quarto.
Sem resposta, procurou pelo mesmo cômodo. Sem sucesso, foi procurar entre todos seus pertences, no banheiro, no escritório. Nem sinal da bendita.
A tal caneta de estimação havia desaparecido. O pior, sem avisar pra onde foi. Ela poderia muito bem ter deixado recado, pois o rapaz conseguiria encontrá-la num lugar não muito distante do bloco de anotações.
Durante três dias Célio encontrava-se desatento e absorto, enquanto seus colegas do setor comercial insistiam em contar-lhe sobre crises familiares, dívidas e vantagens.
Então, num piscar de olhos, ele lembrou que tinha comprado uma caneta favorita novinha, e dado uma idêntica e quase sem carga pro office-boy na semana passada.
_ Paulinho, sabe aquela caneta que te dei?
_ Sim, a preta e macia.
_ Isso, a própria. Perdi a minha, por acaso você a encontrou?
_ Que coincidência, também perdi a minha esses dias. Mas achei ontem.
_ Achou é?
_ Isso. Achava que minha mulher tinha escondido junto com minha mochila do futebol, pra me segurar em casa. Mas estava aqui na loja.
_ Você acha que a que você achou é sua mesmo?
_ Acho sim.
_ Achei que você tinha achado a minha e pego achando que era sua. Tem certeza que não foi isso?
_ Acho que não.
_ Olha, não quero brigar por isso.
_ Acho pouco.
_ Exatamente. Não consigo escrever com outra caneta, fui comprar uma igual e não tinha em nenhuma papelaria. O que acha?
_ Achado não é roubado!
No dia seguinte o office-boy perdeu novamente sua caneta, e Célio a encontrou dentro da mochila do moleque.
Pobre de célio!
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