sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Postagem referente ao dia 27/01

Após suas semanas dando o suor em Paranaíba resolvi mudar de ares. Voltar para a capital era o meu objetivo no início da semana. O horário de ônibus para Campo Grande era às 23h, o horário ideal para o povo daqui, pois após cinco horas e meia a viagem terminava.
Foi a melhor viagem de ônibus de todas que tenho feito ultimamente. O veículo aparentava ser novinho por fora, por dentro o cheiro de carro zero era inconfundível. O único inconveniente da viagem foi meu vizinho de banco. O cara era um roncador profissional, desses que você joga água e o ronco dele fica mais alto ainda. Peguei minha mochila, fui para o penúltimo banco e comecei a ouvir música e jogar um game tonto do celular.
Comecei a pensar comigo mesmo: viajar de ônibus é como o futebol, uma caixinha de surpresas. Sempre encontro figuras inusitadas como bêbados exalando cachaça pelos poros, roncadores, crianças mimadas e escandalosas, donas ansiosas e conversadeiras.

Chegando na capital peguei carona com o Ivan (o agrônomo que tem me norteado e dado uma força por aqui) e fiquei num novo hotel, o Galli. Entrei no saguão e no mesmo momento já não tive uma boa impressão dali, graças ao recepcionista. Ele tinha um porte alto, usava um uniforme surrado e usava um rabo-de-cavalo horrendo. Sim, aparências podem até enganar.Podem? Muitas vezes a primeira impressão é a que fica.
Cadastrei-me na ficha de hóspedes e peguei a chave do quarto. “Seu quarto é logo ali, suba um andar e vá até o fim do corredor. O elevador é logo aqui”, disse o recepcionista, feliz em receber um hóspede tão casual. Tomei meu rumo e ante ao elevador decidi subir pelas escadas. Vai que aquele troço dos anos 60 empacasse!
Subi a escadaria e no corredor já percebia aos poucos o nível do pulgueiro. O cenário era bem semelhante a filmes de faroeste, a única diferença era que o local era fechado. O quarto era no final do corredor. Abri a porta e antes mesmo de adentrar-me, senti um cheiro sufocante de mofo. Coragem! Estava com sono, então era melhor entrar rápido.
Coloquei minha mala sobre a mesa e notei que uma enorme cortina de cetim azul turquesa cobria toda a janela e sufocava o ambiente. Antes mesmo de tirar minhas havaianas verdes para ficar mais à vontade abri aquela cortina e escancarei o vitrô. Pensei no ar condicionado, mas sem condição. O pó tomava conta e ainda pedia uns trocados.
Então resolvi cochilar durante a última hora antes de ir para a loja. A roupa de cama era velha e batida, as inscrições do hotel estavam apagadas e abaixo tinham duas estrelas. Não creio que o uso apagou alguma outra estrela dali. Dei uma vasculhada no travesseiro, só para ver se eu achava alguma pulga, mas não vi nada. Ácaros me mordam!

Amanheceu a terça-feira e logo fui tomar o café-da-manhã. Nunca comi uma manteiga tão parecida com parafina. O ponto positivo do hotel era o suco de laranja, era fresco, sem muita água e com gominhos.
Fui-me embora para com sorte nunca mais voltar.
Quando o Ivan me perguntou do hotel fui bastante sincero: “Aquilo era uma caverna!”. Uma boa indicação para a Revistas 4 Rodas como lugares para serem evitados em Campo Grande – MS.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Crônicas do bloquinho

Desde que comecei meu estágio tenho andado com um bloquinho dado pela loja.
Ele tem sido bem importante, pois nele anoto tudo o que dá na telha, além de eu deixar alguns dados da empresa como endereço e CNPJ. Sem tais informações estou perdido, pois não daria para tirar nota fiscal e depois ser reembolsado pelo financeiro da Agroline nos constantes gastos com comida e hospedagem.
Como esqueço nomes, locais e pontos de referência, garrafas de Coca Cola no freezer, a porta do quarto do hotel destrancada e outras coisas que não vem ao caso lembrar agora, a melhor solução útil tomada durante esses dias foi ter ganhado e colocado o bloquinho em uso.
O complicado mesmo era manter o dito cujo sempre comigo, por isso tive de me acostumar de carregar um peso a mais comigo.
Nos primeiros dias não havia problema algum, porque eu passava a maior parte do tempo viajando e sempre lembrava de deixá-lo guardado no porta-luvas. Passado algum tempo o carro não era tão frequente como as voltas à pé em pastos e em Paranaíba, então meus problemas de memória curta voltam.
Era chegar no hotel e deixar tudo de dentro do meu bolso em locais estratégicos pelo quarto como um enorme criado-mudo, tomar um refrescante banho após ter trabalhado (num delicioso verão onde picos registram 38ºC na sombra) e esquecer o bloquinho para sair rumo a um restaurante. Batia a mão no bolso e murmurava para mim mesmo elogios quanto a minha formidável memória.
Já perdi a conta de quantas vezes voltei em algum lugar graças ao bloquinho.
Bom,mas mudando de assunto, me cansei de usar canetas promocionais malfeitas e acabei de comprar uma caneta nova(retrátil, ponta fina e com grip) numa loja pertinho aqui do hotel, logo no centro. Afinal o bloquinho merece, não é?
Droga, o único problema é que esqueci de comprar um caderno para passar à limpo meus rabiscos do bloquinho.
Fazer o quê? Não volto lá hoje.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Relatório 0001/09 de especificações

Bom pessoal, como algumas pessoas estão por fora de alguns detalhes que não elucidei, esse post irá deixar tudo certinho.
Meu estágio está sendo bancado pela empresa Nufarm, uma multinacional que está começando a entrar no setor de pastagens no Brasil.
Com muito sucesso a Nufarm está ganhando aos poucos o mercado que era restrito aos produtos da Dow AgroSciences, pois após algumas formulações terem suas patentes caídas como o Tordon(2,4-D + Picloram), a Nufarm conseguiu sintetizar produtos idênticos, tornando-os disponíveis por um preço menos para os pecuaristas.
O difícil mesmo é convencer fazendeiros que o produto da Nufarm é tão efetivo quanto o da Dow, como por exemplo o Tucson, que é idêntico ao Tordon. Apesar do Tucson ser bem mais barato, a tradição e confiança numa marca fantasia é diversas vezes um empecilho nas negociações entre técnicos e pecuaristas. Então cabe aos técnicos levar pulverizadores, bombas costais e muita paciência para ganhar um novo cliente.
Outra questão é quanto aos nomes que coloco nas postagens. Aí vai:
O Ivan é o Eng. Agrônomo chefe da loja Agroline, uma revenda de produtos Nufarm, situada em Campo Grande. Nesta loja ficam mais quatro técnicos que possuem diferentes regiões de venda.
Um deles é o Celso, técnico agrícola com quem tenho andado durante essa primeira semana de estágio.
Por enquanto é isso, vou comer uma Parmegianna agora pra comemorar esse dia tão gostoso da semana que é o domingo. Um abraço a todos meus amigos que estão me acompanhando.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Essa postagem é referente ao dia 13/01

O dia começou bem, acordei no mesmo horário que no dia anterior, sem nenhum sinal de cansaço. Tive alguns sonhos estranhos antes do despertar, creio eu que sempre quando durmo em lugares estranhos para mim tais sonhos recorrem em meu inconsciente, nada relevante.
Bocejei, me estiquei naquele colchão duro e me troquei com uma roupa boa apenas para ser surrada.
Cheguei ao refeitório para tomar meu café-da-manhã e achei ótimo o fato de não ter um gato pingado ali, pois no dia anterior aquilo estava um tremendo fervo humano, com exclusiva fila reservada ao pão francês.
Mas foi só o instante de eu tomar o primeiro copo de suco de maracujá que pessoas começaram a atacar vorazmente toda a comida e preencher todas as mesas vagas dali, algo comparável à saúvas cortadeiras acabando com plantas.
De repente um rapaz de rosto familiar se dirigiu a minha mesa e se sentou, perguntando em seguida se eu era o estagiário da Nufarm. Sem hesitar, mesmo com um naco de pão com geléia de goiaba na boca, respondi balançando a cabeça de modo afirmativo e dizendo um sim rápido e baixo, típica voz de quando acabo de acordar.
Perguntei se ele era técnico da empresa, ele retrucou um sim não tão seco quanto o meu. Na sequência o sujeito disse algo do tipo "hoje você vai comigo". Na hora desconfiei de uma nova carona ao invés do Ivan, então soltei um "tudo bem" e voltei escovar os dentes no quarto.
Cheguei na frente do hotel Alquimia (devo uma postagem exclusiva dele) e fiquei ali esperando atrás da sombra de um orelhão. Dez minutos se passaram e a carona que chegou era o Maurício, técnico com quem passei o dia anterior.
Já na loja mal apareci e o Ivan me comunicou que eu iria viajar com o Celso, que no fim das contas era o cara do hotel, que já chegou dizendo que íamos ficar fora uma semana toda e que no mesmo dia iríamos andar até Goiás.
Minha cara não poderia ser a mesma, afinal eu mal tinha chegado em Campo Grande, andado durante cansativas catorze horas num ônibus tosco(outra postagem aqui,talvez eu junte com a do hotel).
Mas como as opções eram aceitar ou aceitar, não tive dúvida em aceitar mesmo, afinal voltando eu ainda teria tempo suficiente para conhecer melhor a capital.
Nos cinquenta primeiros quilômetros de estrada o Celso dirigiu, e combinou comigo que logo saindo da estrada da morte (a lotada de caminhões BR-163) eu iria dirigir.Logo imaginei o quão difícil seria, pois na caçamba havia nada menos que um pulverizador e vários baldes de herbicida.
Quando assumi o volante as coisas melhoraram, pois eu estava com o sono acumulado e não dava a mínima vontade de conversar com o técnico, mas como curto muito dirigir meu sono passou em alguns piscares de olhos.
O cerrado é um pouco menos denso aqui e as cidades continuam tão densas quanto o deserto do Atacama.
Paramos num posto para almoçar e pegar água para o nosso tereré, que havia acabado. Também o Celso toma aquilo demais. Saindo dali, depois de diálogos melhores ( sem tantas respostas monossilábicas como antes) paramos em Chapadão do Sul para abastecermos. Passados uns 40Km chegamos ao primeiro destino, uma fazenda de um cliente muito bom.
Dentro dessa fazenda andei cerca de 15Km de estrada de terra e peguei um buraco enorme, o qual não consegui ver pois ele ficava bem depois de uma rampa numa subida.
Não deu nada além de um furo no radiador, uma saia lateral quebrada, cordas estouradas e um furo na bomba costal.
Tivemos sorte pois dez minutos depois um carro passou ali, levando o Celso para a sede em busca de socorro.
Bom, por hoje é tudo que irei escrever, pois ainda estou esperando no mesmo lugar onde quebrei o carro, sem nada para fazer, nada de água para tomar ( a do tereré tinha acabado), nada ao meu redor além de pasto e cerrado, mosquitos irritantes e um sol escaldante.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Hoje é uma quinta ensolarada aqui como tem sido meus últimos dias em Paranaíba-MS.
Acordei cedo e tomei o melhor café-da-manhã desses dias, afinal o suco de laranja não estava amargo nem tão ácido,sem contar que a manteiga não apresentava nenhum sinal de ranço.
No campo tudo que ocorreu foi a costumeira rotina de vendedor do cerrado, batendo de fazenda em fazenda pelo nordeste do Mato Grosso do Sul.
Na primeira parada entregamos produtos no quintal de uma dona-de-casa que parecida deveras atarefada com sua filha mimada.
A seguir, numa fazenda chegamos e não encontramos nem dono nem capataz ou algo que pudesse assinar recibos, mas para minha simples felicidade achei um pé carregado de doces e suculentas acerolas,então deixamos a encomenda num galpão velho de madeira podre e cheirando guardado como o porão de uma casa abandonada há décadas.Rapidamente saímos dali e nos dirigimos a uma casa de um dos funcionários da fazenda para comunicar a visita e pedir para que deixassem recado ao patrão.
Na segunda fazenda do dia passamos pelo menos duas horas observando o belo ritual de separação de touros reprodutores e sua elegante marcha naqueles corredores de madeira, onde caminham desesperadamente rumo ao descarte ou à seleção. Felizes são os escolhidos, pois ganham mais uns dois anos de uma vida sexualmente ativa. Juro que prefiro eles no churrasco ou pastando sossegados, tentando pegar matos através da cerca, esticando seus pescoços ao máximo na tentativa de alcançar algo mais suculento aos olhos bovinos.
Depois de perder tempo o técnico que me instrui essa semana conseguiu vender uns dez baldes do seu produto e saiu feliz de lá.
Dali seguimos viagem até uma fazenda relativamente próxima, onde pegamos um pulverizador. Lá fomos recebidos pelo capataz e um ajudante, além de um gigante rottweiler. O grande bezerro preto veio na minha direção no mesmo momento que pisei na grama rala daquele quintal. Bateu em mim um desespero, pois apesar de eu adorar cães não dava para não ter medo daquele monstro. Subi na caçamba e logo que o caseiro chegou dizendo que ele era manso desci e o bixo veio querendo brincar comigo, mas dando pulos que se eu logo não o repreendesse poderiam me derrubar,fácil fácil.
Não é que o cão era manso e dócil mesmo? Seilá, sempre tive receio com essa raça, mas o fato é que esse era muito legal e gostoso de acariciar.
Depois de colocar o pulverizador na caçamba da Strada fomos bem recebidos pelo caseiro e sua esposa, que passou café naquele instante. A casa deles era uma das mais confortáveis casas de fazenda para funcionários que tenho visto ultimamente, toda pintada de cores escuras e com um fogão à lenha de dar gosto.
Saímos dali e o tempo já estava mais para uma tempestade com ventos e trovoadas que para uma leve chuva de verão.
No último compromisso do dia entregamos o pulverizador em outra fazenda também perto dali e depois de dicas de regulagem fomos embora para Paranaíba.
Indo para cidade batemos no portão de um fazendeiro e depois caímos na estrada novamente.
Numa outra postagem conto melhor esse episódio, que foi bem ilustrativo para mim.
Vou nessa porque tenho que acordar 4:30h da manhã amanhã para irmos à Inocência.